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11.14 Concordância Verbal

A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterioriza-se na concordância, isto é, na variabilidade do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.

A concordância evita a repetição do sujeito, que pode ser indicado pela flexão verbal a ele ajustada:

Eu trabalhei no duro, sei o que é cortar seringa. (Peregrino Júnior)

Regras gerais


1. Com Sujeito Simples

O verbo concorda em número e pessoa com o seu sujeito, venha ele claro ou subentendido:

Eu faço versos como quem morre. (M. Bandeira)
Fiz tantos versos a Teresinha... (M. Bandeira)

2. Com Sujeito Composto

O verbo que tem um sujeito compostovai para o plural e, quanto à pessoa, irá:

  • a) para a 1ª pessoa do plural, se entre os núcleos do sujeito figurar um da 1ª pessoa:
  • O velho e eu vivíamos no plano do absoluto. (G. Amado)

  • b) para a 2ª pessoa do plural, se, não existindo sujeito da 1ª pessoa, houver um da 2ª:
  • Tu e Túlia estais bons. (J. Ribeiro)

  • b) para a 3ª pessoa do plural, se os núcleos do sujeito forem da 3ª pessoa:
  • Gemiam o vento e o mar. (J. L. do Rego)

Observação:

Na linguagem coloquial, evitam-se as formas do sujeito composto que levam o verbo à 2ª pessoa do plural em virtude do desuso do tratamento vós e, também, da substituição do tratamento tu por você, na maior parte do país.

Em lugar da 2ª pessoa do plural, encontramos o verbo na 3ª pessoa do plural. Assim:

Em que língua tu e ele falavam? (R. Fonseca)

Casos Particulares


1. Com sujeito simples


O sujeito é uma expressão partitiva

Quando o sujeito é constituído por uma expressão partitiva (como: parte de, uma porção de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um substantivo ou pronome plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural:

Para meu desapontamento, a maioria dos nomes adotados não dispunha de telefone,ou eram casas comerciais, que não queriam conversa. (C. D. de Andrade)

O sujeito denota quantidade aproximada

Quando o sujeito, indicador de quantidade aproximada, é formado de um número plural precedido das expressões cerca de, mais de, menos de, perto de e sinônimos, o verbo vai normalmente para o plural:

Cerca de quinhentas pessoas visitaram o maestro na casa do Engenho Velho. (M. Bandeira)

Observação:

Enquanto o sujeito de que participa a expressão menos de dois leva o verbo ao plural, o sujeito formado pelas expressões mais de um ou mais que um, seguidas de substantivo, deixa o verbo no singular, a menos que haja ideia de reciprocidade, ou as referidas expressões venham repetidas:

Menos de dois convidados chegaram atrasados.
Mais de um convidado chegou com atraso.
Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasião.
Mais de um velho, mais de uma criança não puderam fugir a tempo.

O sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou indefinido plural, seguido de de (ou dentre), nós (ou vós)

1. Se o sujeito é formado por algum dos pronomes interrogativos quais? e quantos?, dos demonstrativos estes, esses, aqueles ou dos indefinidos no plural alguns, muitos, poucos, quaisquer, vários, seguido de uma das expressões de nós, de vós, dentre nós ou dentre vós, o verbo pode ficar na 3ª pessoa do plural ou concordar com o pronome pessoal que designa o todo:

Estou falando, portanto, com aqueles dentre vós que trabalham na construção em frente de minha janela. (R. Braga)
Quantos dentre vós que me ouvis não tereis tomado parte em romagens a Aparecida? (A. Arinos)
Muitos de vós, que hoje frequentais os cursos superiores, fostes meus discípulos e me honrastes com o título de mestre. (C. Laet)

2. Se o interrogativo ou o indefinido estiver no singular, também no singular deverá ficar o verbo:

Qual de nós poderia gabar-se de conhecer espinafre? (C. D. de Andrade)
João da Silva — Nunca nenhum de nós esquecerá seu nome. (R. Braga)

O sujeito é o pronome relativo que

1. O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em número e pessoa com o antecedente deste pronome:

Fui eu que te vesti do meu sudário... (C. Alves)


2. Se o antecedente do relativo que é um demonstrativo que serve de predicativo ou aposto de um pronome pessoal sujeito, o verbo do relativo pode:


  • a) concordar com este pronome pessoal, principalmente quando o antecedente é expresso pelo pronome demonstrativo o (a, os, as):
  • Não somos nós os que vamos chamar esses leais companheiros de além-mundo. (R. Barbosa)

  • b) ir para a 3ª pessoa, em concordância com o demonstrativo, se não há interesse em acentuar a íntima relação entre o predicativo e o sujeito:
  • Eu sou aquele que veio do imenso rio. (M. de Andrade)

  • 3. Quando o relativo que vem antecedido das expressões um dos, uma das (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a 3ª pessoa do plural ou, mais raramente, para a 3ª pessoa do singular:
  • A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós. (M. de Assis)

  • 4. Depois de um dos que (= um daqueles que) o verbo vai normalmente para a 3ª pessoa do plural:
  • Naqueles dias a meninada do colégio interessava-se vivamente pelos concursos e eu era um dos que não perdiam o bate-boca das arguições. (M. Bandeira)

O sujeito é o pronome relativo quem

  • 1. O pronome relativo quem constrói-se, de regra, com o verbo na 3ª pessoa do singular:
  • Mas não sou eu quem está em jogo. (E. Verissimo)

  • 2. Não faltam, porém, exemplos de bons autores em que o verbo concorda com o pronome pessoal, sujeito da oração anterior:
  • És tu quem dás frescor à mansa brisa... (G. Dias)

O sujeito é um plural aparente

Os nomes de lugar, e também os títulos de obras, que têm forma de plural são tratados como singular, se não vierem acompanhados de artigo:

Três Caminhos é um livro ótimo. (C. D. de Andrade)

Quando precedido de artigo, o verbo assume normalmente a forma plural:

As Memórias Póstumas de Brás Cubas lhe davam uma outra dimensão. (T. M. Moreira)

O sujeito é indeterminado

Nas orações de sujeito indeterminado, já o dissemos, o verbo vai para a 3ª pessoa do plural:

Anunciaram que você morreu. (M. Bandeira)

Se, no entanto, a indeterminação do sujeito for indicada pelo pronome se, o verbo fica na 3ª pessoa do singular:

Constrói-se, produz-se para o momento. (G. Aranha)

Concordância do verbo Ser

  • 1. Em alguns casos o verbo ser concorda com o predicativo. Assim:
    • 1º) Nas orações começadas pelos pronomes interrogativos substantivos que? e quem?:
    • Que são religiões, sistemas filosóficos, escolas científicas, credos artísticos ou literários? (A. Peixoto)
    • Pouco importa saber à nossa história quem eram os convidados. (M. de Assis)

    • 2º) Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo ou o (= aquilo) e o predicativo vem expresso por um substantivo no plural:
    • Tudo isso eram pensamentos, suposições, das quais não resultava a verdade. (L. Jardim)
    • O que tinha mais saída porém eram os artigos religiosos. (C. Lispector)

    • Mas, neste caso, apesar de raro, pode aparecer o verbo no singular, em concordância com o pronome demonstrativo ou com o indefinido:

    • Tudo é flores no presente. (G. Dias)

    • 3º) Quando o sujeito é uma expressão de sentido coletivo como o resto, o mais:
    • O resto eram bastiões em trevas. (C. Lispector)
    • O mais são casas esparsas. (C. D. de Andrade)

    • 4º) Nas orações impessoais:
    • Eram quase duas horas e a praia estava completamente deserta. (V. de Moraes)
    • Deviam ser oito horas e eu vim descendo a pé pela borda do cais. (L. Barreto)

    Observação:

    Empregados com referência às horas do dia, os verbos dar, bater, soar e sinônimos concordam com o número que indica as horas:

    Batiam oito horas numa padaria. (M. de Assis)
    Davam seis horas, todos à mesa. (M. de Assis)

    Quando há o sujeito relógio (ou sino, sineta, etc.), o verbo naturalmente concorda com ele:

    O sino da Matriz bateu seis horas. (a. Meyer)

  • 2. Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo normalmente concorda com ele, qualquer que seja o número do predicativo:
  • Todo eu era olhos e coração. (M. de Assis)

  • 3. Quando o sujeito é constituído de uma expressão numérica que se considera em sua totalidade, o verbo ser fica no singular:
  • Oito anos sempre é alguma coisa. (C. D. de Andrade)

  • 4. Nas frases em que ocorre a locução invariável é que, o verbo concorda com o substantivo ou pronome que a prece de, pois são eles efetivamente o seu sujeito:
  • Só os meus mortos é que ouvirão as palavras que não chego a articular. (A. F. Schmidt)

2. Com sujeito composto


Concordância com o sujeito mais próximo

Vimos que o adjetivo que modifica vários substantivos pode, em certos casos, concordar com o substantivo mais próximo. Também o verbo que tem um sujeito composto pode concordar com o núcleo do sujeito mais próximo:

  • a) quando o sujeito vem depois dele:
  • Em tudo reina a desolação, a pobreza extrema, abandono. (A. F. Schmidt)

  • b) quando os sujeitos são sinônimos ou quase sinônimos:
  • A música e a sonoridade da sua arte sempre nos diz alguma cousa daquele mistério. (J. Ribeiro)

  • c) quando há uma enumeração gradativa:
  • A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. (M. Lobato)


Sujeito composto resumido por um pronome indefinido

Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome:

O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho. (R. de Queirós)


A mesma concordância se faz quando o pronome anuncia o sujeito composto:

E não só dos homens se arreceava — tudo temia: o sol do verão, o frio do inverno, os frutos que ela colhia, as flores com que se enfeitava. (Coelho Neto)


Sujeito composto representante da mesma pessoa ou coisa

Quando os sujeitos, por palavras diferentes, representam uma só pessoa ou uma só coisa, o verbo fica naturalmente no singular:

Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu. (M. de Assis)

Sujeito composto ligado por ou e por nem

1. Quando o sujeito composto é formado de substantivos no singular ligados pelas conjunções ou ou nem, o verbo costuma ir:

  • a) para o plural, se o fato expresso pelo verbo pode ser atribuído a todos os núcleos:
  • O mal ou o bem dali teriam de vir. (D. S. de Queirós)

  • b) para o singular, se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos núcleos do sujeito, isto é, se há ideia alternativa:
  • Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me. (M. de Assis)

  • 2. Se os núcleos do sujeito ligados por ou ou por nem não são da mesma pessoa, isto é, se entre eles há algum expresso por pronomes da 1ª ou da 2ª pessoa, o verbo irá para o plural e para a pessoa que tiver precedência:

    • Ou ela ou eu havemos de abandonar para sempre esta casa; e isto hoje mesmo. (B. Guimarães)

    3. As expressões um ou outro e nem um nem outro, empregadas como pronome substantivo ou como pronome adjetivo, exigem normalmente o verbo no singular:

    • um ou outro menino usava sapatos; a maioria, de tamancos ou descalça. (G. Amado)
    • Nem um nem outro havia idealizado previamente este encontro. (T. da Silveira)

    A expressão um e outro

    A expressão um e outro, no entanto, pode levar o verbo ao plural ou, com menos frequência, ao singular:

    • Um e outro tinham a sola rota. (M. de Assis)
    • Um e outro é sagaz e pressentido. (A. F. de Castilho)

    Sujeito composto ligado por com

    Quando os sujeitos vêm unidos pela partícula com, o verbo pode usar-se no plural ou em concordância com o primeiro sujeito, segundo a valorização expressiva que dermos ao elemento regido de com.

    Assim, o verbo irá normalmente:

    • a) para o plural, quando os sujeitos estão em pé de igualdade, e a partícula com os enlaça como se fosse a conjunção e:
    • Garcilaso com Boscán e Petrarca são os poetas favoritos do grande épico. (J. Ribeiro)

    • b) para o número do primeiro sujeito, quando pretendemos realçá-lo em detrimento do segundo, reduzido à condição de adjunto adverbial de companhia:
    • A Princesa Sereníssima, com o augusto esposo, chegou pontual às duas horas, acedendo ao convite que recebeu primeiro que ninguém. (R. Pompeia)

    Sujeito composto ligado por conjunção comparativa

    Quando os dois sujeitos estão unidos por uma das conjunções comparativas como, assim como, bem como e equivalentes, a concordância depende da interpretação que dermos ao conjunto.

    Assim, o verbo concordará:

    • a) com o primeiro sujeito, se quisermos destacá-lo:
    • O dólar, como a girafa, não existe. (C. D. de Andrade)

    • Neste caso, a conjunção conserva pleno o seu valor comparativo; e o segundo termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por vírgulas.

    • b) com os dois sujeitos englobadamente (isto é: o verbo irá para o plural), se os considerarmos termos que se adicionam, que se reforçam, interpretação que normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo tanto... como:
    • É um homem excelente, e tanto Emília como Francisquinha o estimam muito, a seu modo. (C. dos Anjos)

    • Entre os sujeitos não há pausa; logo, não devem ser separados, na escrita, por vírgula.

      De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por uma série aditiva enfática (não só... mas [senão ou como] também):

      Não só cristãos como também infiéis circulam nas catacumbas dos "subways". (E. Veríssimo)