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03.03 Estrutura das Palavras

Examinemos estas duas séries de palavras:

terra terras terroso terreiro desterrar
novo nova novinho novamente renovamos

Notamos que, em cada uma delas, as palavras apresentam:

  • a) uma parte constante em cada série: terr- (na primeira) e nov-(na segunda);
  • b) uma parte que varia de palavra para palavra: -s, -oso, -eiro, des- (na primeira); -a, -inho, -mente, re- e -mos (na segunda).

Radical

As partes invariáveis terr- e nov- constituem o radical de cada uma das séries enumeradas. É o radical que irmana as palavras da mesma família e lhes dá uma base comum de significação.

As outras formas resultam da ligação ao radical de certos elementos, que, como veremos, podem ser uma desinência, um afixo (sufixo ou prefixo) ou uma vogal temática.

Desinência

As desinências têm simplesmente valor gramatical. Servem para indicar:

  • a) nos nomes (substantivos e adjetivos) e em certos pronomes, o gênero (masculino ou feminino) e o número (singular ou plural);
  • b) nos verbos, o número (singular ou plural) e a pessoa (1ª, 2ª ou 3ª).

Assim, em terras, nova e numa forma verbal como renovamos aparecem as seguintes desinências:

-s, para denotar o plural (em terras);
-a, para caracterizar o feminino (em nova);
-mos, para expressar a 1ª pessoa do plural (em renovamos).

Convém, pois, distinguir as desinências nominais das verbais.

Desinências nominais. São as seguintes:

Gênero Número
Masculino Feminino Singular Plural
-o -a - -s

O singular caracteriza-se pela falta de desinência, ou melhor, pela desinência-zero, pois a falta, no caso, é um sinal particularizante.

Desinências verbais. As flexões de pessoa e número são expressas nos verbos por desinências especiais, que podemos distribuir por três grupos: desinências do presente do indicativo, do pretérito perfeito do indicativo e do infinitivo pessoal (= futuro do subjuntivo):

  Presente Pretérito Perfeito Infinitivo Pessoal
Fut. do Subjuntivo
PESSOA SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
1ª -o -mos -i -mos - -mos
2ª -s -is (-des) -ste -stes -es -des
3ª - -m -u -ram - -em

Nas outras formas finitas, as desinências são as mesmas do presente do indicativo, salvo na primeira pessoa do singular, que, como a terceira, se caracteriza pela falta de qualquer desinência (desinência zero).

Observação:

Para facilitar a aprendizagem, dissemos que a desinência da 3ª pessoa do plural é -m (ou -ram, -em). Mas, em verdade, o -m que aí aparece é um mero símbolo gráfico: as terminações -am e -em são apenas modos de representar, na escrita, os ditongos nasais átonos -ãu e -i.


Afixo (prefixo e sufixo)

Os afixos são elementos que se agregam ao radical para modificar-lhe o significado. Os afixos que se antepõem ao radical chamam-se prefixos; os que a ele se pospõem, sufixos.

Os prefixos modificam geralmente de maneira precisa o sentido do radical. Assim, em desterrar e renovamos aparecem os prefixos: des-, que empresta ao primeiro verbo a ideia de separação; re-, que ao segundo acrescenta o sentido de repetição de um fato.

Os sufixos, como as desinências, se unem à parte final do radical. Mas, enquanto estas caracterizam apenas o gênero, o número ou a pessoa da palavra, sem alterar-lhe o sentido ou a classe, os sufixos transformam substancialmente o radical a que se juntam. Assim, em terroso, terreiro, novinho e novamente, há os sufixos:

-oso, que do substantivo terra forma o adjetivo (terroso);
-eiro, que do substantivo terra forma outro substantivo (terreiro);
-inho, que do adjetivo novo forma o diminutivo (novinho);
-mente, que do feminino do adjetivo novo forma o advérbio (novamente).

Vogal temática e tema

Na análise da forma verbal renovamos, distinguimos três elementos formativos:

  • a) o radical: nov-
  • b) a desinência número-pessoal: -mos
  • c) o prefixo: re-

Falta identificarmos apenas a vogal a, que aparece entre o radical nov-e a desinência -mos, vogal que encontramos também na forma de infinitivo fumar, entre o radical fum-e a desinência -r.

Nos dois casos, ela está indicando que os verbos em causa pertencem à 1ª conjugação. A essas vogais que caracterizam a conjugação dos verbos dá-se o nome de vogais temáticas. São elas:

-a-, para os verbos da 1ª conjugação (fum-a-r, renov-a-mos);
-e-, para os da 2ª (dev-e-r, faz-e-mos);
-i-, para os da 3ª (part-i-r, constru-í-mos)

O radical acrescido de uma vogal temática, isto é, pronto para receber uma desinência (ou um sufixo), denomina-se tema.

Vogal e consoante de ligação

Os elementos mórficos até aqui estudados entram sempre na estrutura do vocábulo com determinado valor significativo externo ou gramatical. Há,porém, outros que são insignificativos, e servem apenas para evitar dissonâncias (hiatos, encontros consonantais) na juntura daqueles elementos.

Se examinarmos, por exemplo, os vocábulos gasômetro e cafeteira, verificamos que:

  • a) o primeiro é formado de dois radicais — gás- + -metro —, ligados pela vogal -o-, sem valor significativo;
  • b) o segundo é constituído do radical café- + o sufixo -eira, entre os quais aparece a consoante insignificativa -t- para evitar o desagradável hiato -éê-.

Esses sons, empregados para tornar a pronúncia da palavra mais fácil ou eufônica, denominam-se vogais ou consoantes de ligação.